terça-feira, 26 de julho de 2011

Ser Hippie



Depois que levaram meu carro, percebi o quanto sou consumista.


Digo consumista no âmbito geral, porque até então não tinha parado pra respirar, refletir, que é o que acabamos fazendo diante do ritmo alucinado que vivemos. Pois bem, passado um mês após o roubo, numa visita de rotina a um cliente, me recordo nitidamente do momento em que trombei com o meu carro: sem três rodas e sem motor. Por dentro estava todo sujo, os bancos revirados, vidro quebrado, e foi exatamente aí que me peguei pensativa. Naquela noite fiquei acordada, sem conseguir dormir e só chorando. Mas por quê? Qual era o motivo de eu chorar somente um mês depois do ocorrido?
Eu estava lamentando pelo que o carro representava para minha família, não pela perda material em sí. Algo que meus pais trabalharam longos anos para pagar e que se desfez em questão de minutos. Naquele momento, só chorava agradecendo a Deus por aqueles bandidos terem levado apenas o carro e não minha vida.
São coisas simples, mas que fazem lembrar o real sentido de estarmos na terra. Afinal, para que? Com que objetivo? Para que nos matemos de trabalhar para comprar mais, e mais e mais, até não caber mais nas nossas casas e termos que reformá-las no intuito de ajustá-las ao nosso conforto?
Daí, numa manhã de segunda cotidiana, eis que meu pai convulsiona sem motivo nenhum, e aquela cena de homem forte e cheio de saúde cai por terra em minha cabecinha. Apesar de amar o que faço no trabalho, nada e absolutamente nenhum assunto conseguiu me segurar nos textos que eu tinha que produzir. Só queria meu pai e mais nada.
Passado esse episódio, me encontro com outro problema. Dias depois de fazer minha mudança Limeira-Piracicaba, minha cama está cheia de roupas e no guarda-roupas não cabe mais nada. Longas horas de arrumação e finalmente chego num consentimento com as tralhas fazendo caber no meu quarto. Olhando para aquele monte de roupas disputando espaço, me perguntei outra vez... para quê? Eu uso todas? Garanto que são 10 ou 15 peças as escolhidas para o dia-a-dia e que se olhadas do ponto de vista crítico, bastavam com folga.
No fim de toda lucubração comento com a minha mãe: “Mãe, vamos vender tudo, morar na praia e virar hippies?” – E eu mesma me respondo: “Não, estou presa a todos os confortos que o dinheiro me proporciona”.
O que realmente nos faz bem? O que realmente importa?

Não sei. Agora não dá pra pensar nisso porque estou trabalhando para comprar meu carro zero quilômetro e programar minha viagem de praia naquele Resort que eu vi na TV. Tenta uma data em minha agenda, que depois conversamos.

Todas elas amarras, que os verdadeiros hippies (digo verdadeiros em sua ideologia) nunca tiveram.