terça-feira, 5 de abril de 2011

Não aos cidadãos conscientes, sim aos consumidores passivos

Análise do documentário “Triunfo da Vontade”


O filme “O Triunfo da Vontade” é um retrato do 4º Congresso do Partido Nacional Socialista Alemão (NSDAP) na Alemanha. O nazismo não aconteceu por acaso. A Segunda Guerra Mundial foi resultado de um processo histórico e político, que resultou na ascensão do maior ditador de todos os tempos: Hitler. Na Primeira Guerra Mundial, a Alemanha sofreu diversas limitações impostas pelo Tratado de Versalhes. Além de ter perdido grande território, sua economia encontrava-se arrasada. O cenário alemão era triste e deplorável, e o governo da época perdia sua popularidade. O estopim e as deixas para que o nazismo ganhasse força, foram a Crise de 1929 (que abalou diversos países), e os conflitos internos espalhados pela Alemanha. Hitler já havia criado nesse momento o NSDAP, e com a morte do antigo presidente e a falta de mais partidos para concorrerem ao governo, o partido de “Führer” fica no poder. Diante desse pano de fundo, a idéia nazista era a de criar uma identidade alemã, na qual todos os alemães pudessem se enxergar e ter orgulho de morar na Alemanha. A teoria da “Agulha Hipodérmica” ou “Teoria Hipodérmica” reflete o que foi realizado pelo partido nazista: o estímulo (grandes concentrações de alemães em campos, cantando hinos, vestindo roupas-típicas alemãs, discursos nacionalistas e a criação de um modelo físico genuinamente alemão) e a resposta, que no caso, foi a aceitação de um conjunto de idéias “absurdas” que oprimiram e mataram cerca de 6 milhões de judeus na época. A resposta, não foi exatamente uma “resposta”, foi o consentimento de milhões de alemães diante de tais barbaridades. A resposta do país, foi, como mostrada no documentário, a união de milhares de pessoas admiradas por um ditador que desfilava em carros, fazia discursos longos, e ainda assim, ficavam maravilhadas pelo poder e autoridade de Hitler. A mídia (na época, o rádio em especial) ficou vista como sendo capaz de convencer de forma sólida a opinião pública e submeter as massas à sua vontade de entendimento.


Quem, diz o que, para quem, com que efeito?


Lasswell não estava cem por cento contente com sua teoria. Ele achava que a massa não era apenas o receptor sem cunho histórico e sem vontades próprias. Então, numa sociedade democrática, o poder de filtragem de informações adquiridas podia se tornar um problema se acontecesse na época da Segunda Guerra. No caso estudado, essa variável não pôde ser levada em questão, porque o medo da opressão do totalitarismo era enorme, sendo assim, o aceitamento de idéias era a melhor forma de se sobreviver. Mas, em ambiente livre para opiniões, deve ser estudado sim (segundo Lasswell) o que se fala, o conteúdo da mensagem, o emissor e receptor definido, e o mais importante: para que servirá essa informação.


- Narcóticos -


Além dos pontos notados por Lasswell, o pensador Lazarsfeld observou mais. A comunicação tem poder no que remete a definição de status e hierarquia. O poder de persuasão de um ditador pode elevar seu status e provocar sua ascensão num pequeno espaço de tempo, de acordo publicidade que exercer. Usando a persuasão através da mídia, poupa-se de utilizar da força física para dominar certo público. Mais do que isso, o entretenimento (diversão) estagna as pessoas que ficam anestesiadas e mórbidas diante das situações, não provocando reação nenhuma contra as mensagens. As disfunções narcotizantes, como é chamada pelo pensador, limita as pessoas que consomem sem se questionar.


- - Hitler astuto


O mais impressionante da tragédia do nazismo é a coesão com que os líderes agiam e a força de propaganda que o partido possuía, numa época tão escassa em serviços de qualidade nessa área. O fenômeno com certeza é e será sempre estudado por todo o mundo. Foi uma mentira, muito bem contada, que de certa forma, tornou-se realidade para os alemães: “Uma mentira dita cem vezes, torna-se verdade”. A postura teatral e messiânica do “Führer” merece atenção especial.



A ESCOLA DE FRANKFURT E FILME 1984



A principal relação que vejo entre a escola de Frankfurt e o filme 1984, são as representações: no longa, o Grande Irmão representa a indústria cultural e Winston, como a grande massa. O filme nada mais é, do que a forma exagerada de mostrar o que acontece conosco nos dias atuais. Somos “vigiados” o tempo todo por uma “força maior” que define o que comemos, bebemos e que tipo de prazer devemos querer ter. A indústria cultural, faz o papel do Grande Irmão na vida real:a padronização limita o estímulo intelectual e nos coloca diante de um repertório fraco de músicas atuais, como exemplo. Os gostos estão modelados e são fabricados, a grande massa consome conformadamente tudo o que é produzido pelas grandes indústrias, meios de comunicação e até governos. No filme, o medo é a principal arma usada pelo partido opressor para manter a ordem. Nós, na vida real, também temos medo. É mais fácil adquirir e consumir loucamente aquilo que nos é imposto. Não é necessário pensar, muito menos produzir para aceitar esses produtos. A dominação é o tema mais explorado no longa, e a realidade também é algo manipulado pelo “Big Brother”. Na realidade, não fugimos disso. Vivemos num mundo em que temos o direito de falar o que pensamos, mas a massa jamais acreditará, afinal quem somos? Quem manda é a mídia. Quem define, são os poderosos. Uma opressão disfarçada. Vivemos num sistema que define o que comemos, o que vestimos, o que temos vontade de comprar. O supérfluo ultrapassando a necessidade básica. Mas é claro que há contradições. Não são todas as pessoas que vivem dessa maneira, e que de alguma forma, encontraram uma brecha no sistema e vivem de forma alternativa. Infelizmente – ou felizmente- é necessária que haja certa padronização, para manter a ordem. E se procurarmos, ainda há conteúdo de qualidade nas mídias.

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