sexta-feira, 8 de abril de 2011

Montanha-russa


Ela foi àquele parque de diversões pela quinta vez. Ha anos não voltava lá, e seu primeiro brinquedo escolhido fora a montanha-russa. Conforme os carrinhos lentamente subiam a íngreme ladeira ao encontro do pique da diversão, Laura ia analisando a situação: - Esses carrinhos eram maiores. Aqui era mais alto. Não tinha tanto chicletes grudado nos trilhos. Quando o ápice da subida foi alcançado, os carrinhos despencaram numa velocidade incrível e Laura se viu inconformada: não tinha fechado os olhos de medo! Sentia aquele friozinho na barriga, mas os olhos ficavam abertos e atentos. O que havia acontecido? Tinha envelhecido? Era o mesmo brinquedo, como não sentia a vibração forte como das outras vezes em que foi e encarou a mesma atração? Ela se via agora, diante de algo imutável e tinha de ter paciência com as condições impostas pelo tempo. Agora, Laura tinha contas a pagar, já tinha perdido um, dois, três namorados, já havia sido traída duas doídas vezes pela sua - antes- melhor amiga, já tinha tomado aquele “esporro” do patrão por ter cometido uma falha simples, porém importantíssima para ele. O couro estava grosso, e a vida dura.

Então entendeu o que se passara na montanha-russa e seu semblante nublou. As fantasias, a falta de preocupação com os noticiários, e o simples fato de ser criança, fez com que um dia, aquele brinquedo fosse tão maravilhoso. Assim como Laura, milhões de pessoas buscam nas coisas o sentido para viver. Querem saber como faz para apertar o "replay" na vida real, mas esquecem que o segundo passado está morto, enterrado e jazida num lugar que pode ser desenterrado, remoído, mas jamais ressuscitado. O importante não é o porquê vivemos, mas para que. Laura, a desiludida do parque, descobriu que nela mesma estava o significado daquilo. Então voltou à montanha-russa no mesmo dia, cinco vezes. As cinco vezes foram diferentes, as brisas no rosto também. Ela descobriu, então, que o botão "start" era mais interessante que o"restart". Redescobriu a vida.

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